18/6/2023

Eis que o Grande Líder resolveu indicar não uma pessoa de esquerda, não um negro, não uma mulher – muito menos uma mulher negra – para o Supremo Tribunal Federal. Escolheu indicar… seu próprio advogado. Uma porcaria de indicação – coerente, é claro, com a ampla maioria de merdas de indicação feitas nos governos anteriores do Partido dos Trabalhadores. Parte dos motivos pelos quais a indicação é uma bosta foi bem discutida em um episódio recente do Medo e Delírio em Brasília.

Quando os fundamentalulistas repetiam, durante a campanha eleitoral do ano passado, o mantra “confia no pai”, eu sempre dizia: “não só não passo cheque em branco, como queria que o candidato explicitasse se vai mudar os critérios para as indicações ao Supremo ou vai continuar fazendo cagada como nos dois governos anteriores”. Eu não tinha dúvida de que a segunda alternativa era a verdadeira. A capacidade da esquerda brasileira e de seu principal líder de não aprender nada com o passado e com seus próprios erros é insuperável.

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Os três textos abaixo foram escritos há cerca de três semanas, mas acabei não publicando.

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Andei fazendo pequenas compras de pequenos móveis, pois me mudei. Cada uma em um site ou portal diferente do outro. Uns pareciam coisa grande, de bilionário. Outros, negócio familiar pequeno. Mas, independentemente do local do CNPJ que aparece na nota fiscal e do da transportadora, sempre dou um confere na caixa e de onde é o fabricante. E, aí, não tem erro: Arapongas (PR), São José do Cedro (SC) e Flores da Cunha (RS) foram as três.

Nada fabricado neste estado de merda que é o Rio de Janeiro, que só produz mel de abelha, coco, terra ensacada, humus de minhoca, goiaba, banana, enfim, aquilo que é feito nas margens de uma imensa plantation improdutiva. Basta fazer viagens rodoviárias para qualquer direção do estado para ver como este é composto basicamente de latifúndios improdutivos; o contraste com viagens semelhantes feitas em estados como o Paraná é brutal. Observo empiricamente isso há décadas – e simplesmente não muda. O estado já teve trocentas vezes para ser “salvo” pelo turismo, pelo petróleo e pelos eventos. O que ainda rende empregos razoavelmente melhores é o setor de petróleo e gás natural, que, ao mesmo tempo devasta de forma sem precedentes o meio-ambiente, hoje não rende o que se esperava que rendesse e já teve seu período de Serra Pelada e O Banheiro do Papa. (Aliás, como diria Elio Gaspari, ganha um terreno vizinho ao Comperj em Itaboraí quem acreditar na conversa fiada de Luiz Inácio de que é preciso explorar petróleo na foz do Amazonas para gerar riqueza e propiciar uma vida melhor aos milhões de brasileiros que vivem na Amazônia.)

Não por acaso, o RJ cada vez mais desindustrializado é aquele que há trocentos anos guarda a marca de maior percentual de desemprego entre todos os estados do Brasil. Para além da roubalheira que rendeu vários governadores presos, política e estrategicamente todos eles trucaram e retrucaram a aposta na desindustrialização e no turismo. A PMERJ poderia e pode continuar matando do mesmo jeito mil e poucos pretos e pobres por ano, porque, segundo aquela conversa fiada alucinada, a Copa e as Olimpíadas iriam nos transformar em Paris ou Barcelona. Deu errado, né? Pra surpresa de ninguém.

Alguém duvida que o atual governo federal vai redobrar a aposta? Petróleo e turismo para o Rio de Janeiro?

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[Escrevi o que vai abaixo depois de Flamengo 1×0 Corinthians… Na sequência, o Flamengo fez partidas iguais contra Ñublense e Cruzeiro, ou seja, pode-se dizer que o time encontrou um padrão de jogo.]

Flamengo e Corinthians fizeram um jogo abaixo da crítica hoje no Maracanã. E olha que a crítica já tem o nível mais baixo possível, em se tratando de Campeonato Brasileiro e desse time do Flamengo. O Flamengo jogou com a preguiça e vagabundagem que lhe são peculiares. O Corinthians, por incrível que pareça, fez mais e tentou mais ganhar o jogo. O Flamengo passou o jogo inteiro com a indolência monumental que o caracteriza desde 2021 nos Campeonatos Brasileiros. Toque de bola para o lado e para trás o tempo inteiro. Recua pros zagueiros e volantes, volta no goleiro, vai de um lado pro outro sem render nada. Esse tipo de procedimento poderia ganhar o nome de pêndulo arame liso do Mengão.

O Flamengo é uma espécie de Detran/RJ em forma de time de futebol. (Só não sei se é base da família Garotinho como ocorre com o órgão estadual de trânsito… Desconfio que não, que vote no bolsonarismo mesmo.)

Dito isso, o Flamengo, gastando o que gasta com seu elenco, tinha a obrigação de aplicar uma surra no Corinthians hoje e ajudar Vanderlei Luxemburgo a passar um tempo com seus netos. Passar longe de dar uma goleada significa que está disputando mais um Campeonato Brasileiro no padrão de vadiagem dos últimos dois anos (2021 e 2022). Salários milionários e em dia, ambiente de trabalho sem pressão ou cobrança, conforto nas viagens… A turma tem tudo e, mesmo assim, está entediada e de sacanagem.

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Ainda sobre o episódio do Medo e Delírio em Brasília sobre o qual escrevi antes, que abordou a esculhambação que dois deputados federais da extrema-direita – um deles, Ricardo Salles – deram nos militares, destaco também a observação do deputado federal Glauber Braga (PSOL/RJ) de que os deputados bolsonaristas só estão esculhambando as Forças Armadas agora porque elas não deram o golpe que eles esperavam no dia 8 de janeiro deste ano. É casuísmo puro? É. É verdade o conteúdo do que eles disseram a respeito delas? Também é.

A melhor parte do programa – sintomática e corretamente chamado Só Derrotas – é o deputado federal do glorioso  Partido dos Trabalhadores (PT) do Rio de Janeiro que justificou o voto com uma informação errada (o que aconteceu foi o contrário do que ele disse). Ou seja, aquela caozada dos membros do clã Bolsonaro de que “votaram errado” em várias situações fez escola. Quando são os bolsonaristas que fazem, a esquerda diz que é pilantragem e/ou burrice. Quando a própria esquerda faz, é o quê, então?

 

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