29/6/23

De todo o bafafá envolvendo a divulgação do Censo 2022 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), duas coisas me chamaram a atenção.

Primeiro, a pouca relevância atribuída à pandemia e à imensa quantidade de mortes causadas por ela. Sempre foi a coisa mais óbvia do mundo que os 700 mil mortos dos dados do consórcio de imprensa são um número subestimado. Subestimado em quantas vezes, é difícil saber. Duas? Três? Quatro? Mais? Se pensarmos em três vezes, por exemplo, isto significaria que morreram mais de dois milhões de pessoas – e talvez resida aí uma das explicações para a diferença entre a população projetada e a população contada.

A meu ver, isto faz parte de um cenário mais amplo de como o Brasil jamais conseguiu lidar de forma direta e responsável com a pandemia – a começar pelo governo militar liderado por Jair Bolsonaro, que aproveitou a oportunidade para cometer genocídio e dizimar o máximo possível de brasileiros. Mesmo cientistas e órgãos de alguma forma ligados à ciência e à produção de conhecimento têm dificuldade de assumir de forma completa, total, integral a dimensão que a pandemia teve no país e a devastação que ela causou, tanto no número de vidas ceifadas quanto nas consequências destas perdas para os que ficaram (sobreviveram). Saibamos ou não, assumamos ou não, queiramos ou não, somos uma sociedade traumatizada pelo horror da experiência pandêmica. Os efeitos estão aí e não vão desaparecer ou diminuir de uma hora para outra.

Segundo, a falta de disposição de apontar claramente a responsabilidade política do governo Dilma Rousseff nesta cagada que é o resultado do Censo 2022. Afinal, como escrevi noutras ocasiões neste blogue, deveria ter havido uma contagem populacional em 2015. Ela não foi realizada por decisão política do governo da Coração Valente de realizar cortes brutais no Orçamento (desde a proposta apresentada em 2014 até a execução no ano seguinte) e jogar a economia brasileira numa recessão. Os resultados, devastadores, continuam sendo sentidos até hoje, seja sob a forma de uma crise econômica da qual o país jamais se recuperou ou saiu, seja, neste assunto específico, atrapalhando brutalmente a produção de dados concretos sobre o país e que pudessem calibrar, no meio do caminho, as projeções para o Censo de 2020.

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