8/8/2023

Anotações esparsas que eu não tinha publicado…

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Fui nascido e criado ouvindo rádio. Acho incrível o veículo. Tão incrível quanto é a sua captura, há décadas, no Brasil, por direitistas, políticos de direita e aspirantes a, criminosos, bandidos, pastores, religiosos e/ou todas as alternativas anteriores.

Isso se explica, em parte, por ser o rádio objeto de concessão pública: o que os pilantras buscam é o privilégio de acesso a um público.

E, ao mesmo tempo, é justamente ser concessão pública – portanto, sujeita aos artigos 220 a 224 da Constituição Federal, entre outros – que faz com que seja inacreditável, bandida, criminosa, ilegal boa parte da programação que vai ao ar diariamente na maioria das emissoras de radiodifusão brasileiras. Isto ocorre também há décadas.

Na real, eu só continuo ouvindo rádio rádio porque o veículo cobre bastante o rame-rame diário dos grandes clubes de futebol do Rio, e porque o faz em horários em que me é conveniente ouvir, por estar dedicado a tarefas domésticas. Mas que é podre em termos de qualidade e ainda pior em termos de posições políticas, pilantragens e crimes em anúncios etc., é.

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Dito isso, o que tem de novidade bacana mesmo, nos últimos anos, são os podcasts. Não curto a maioria e os mais famosos, que obedecem a fórmulas, buscam certas “polêmicas” repetitivas etc. Mas gosto muito de alguns que tentam fazer o trabalho constante de cobrir um assunto ao longo dos anos, como o excepcional Medo & Delírio em Brasília, do qual sou assinante.

E aos que têm início, meio e fim, por se disporem a contar uma história ou tratar de um determinado assunto/questão, com hora para acabar. Entre estes, gostei muito do “A mulher da casa abandonada“.

Ouvi os quatro primeiros episódios – que é o que tá no ar – de “Senhor da Razão? Mario Celso Petraglia e o Athletico Paranaense“, a respeito do dirigente homônimo e que é facilmente considerado um bandidão por qualquer jornalista ou torcedor de qualquer clube do Brasil. O podcast revelou um personagem muito mais interessante do que eu imaginara. Quem dera que cada dirigente de futebol relevante do país nos últimos 40 anos fosse objeto de um podcast tão bem-feito – inclusive os dirigentes do meu clube, o Flamengo, a maioria dos quais considero bandidos de alta periculosidade, mas que, independentemente disso, mereciam um podcast cada. Nunca serão objeto de um trabalho assim, provavelmente. Entre outras razões, porque o clubismo é o fator que move 99,9% do jornalismo sobre futebol e também das pesquisas científicas sobre futebol. Lamentavelmente.

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Em 14 de junho de 2023, uma CPI do Congresso Nacional aprovou a quebra do sigilo telefônico do ex-presidente Jair Bolsonaro. Ora, isto pode não querer dizer nada, caso os aparelhos do Cavalão sejam tratados como os 13 celulares apreendidos com o finado Capitão Caveira do Bope Adriano da Nóbrega no interior da Bahia, assassinado graças à autorização e aplauso póstumo do então governador Rui Costa, do Partido dos Trabalhadores (PT). A investigação era para dar em alguma coisa para esclarecer o assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL/RJ), mas nada deu e nem vai dar em porra nenhuma. Afinal, o Rio de Janeiro é um território de bandidos, e um em que se sentem particularmente à vontagem os bandidos ligados à farda.

Os quatro anos de governo Bolsonaro foram um esforço constante de genocídio contra o povo brasileiro. As campanhas eleitorais de 18 e 22 bateram recorde mundial de criminalidade comum e eleitoral. Assim como aconteceu com os militares criminosos que governaram o Brasil entre 1964 e 1985, Jair Messias Bolsonaro continua fora da cadeia. E não há qualquer perspectiva razoável de que ele vá parar lá por condenações pelos crimes que cometeu. Assim como acontece com os oficiais das Forças Armadas brasileiras desde sempre.

Em 2072 pode ser que um dos militares criminosos da ditadura 64-89 que tenha 130 anos de idade responda na cadeia pelos crimes que cometeu e o familiar herdeiro responda pelo saqueamento/roubo de dinheiro público, perdendo patrimônio. Em 2103, um dos herdeiros de Jair Bolsonaro vai responder pelos mesmos crimes e, talvez, tenha que responder (= perder) alguns dos bens que herdou em função do histórico pregresso de décadas (impununes e não julgadas) de crimes cometidos pela família.

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Para surpresa de zero pessoas, o STJD determinou que o Santos jogue de portões fechados por 30 dias. O mesmo aconteceu com o estádio de São Januário, do Vasco. Punitivismo imbecil e inócuo por punitivismo imbecil e inócuo, a melhor coisa que poderia acontecer no futebol brasileiro seria fechar o STJD por tempo indeterminado.

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