14/7/2023

Ouvindo o Medo & Delírio em Brasília, fico sabendo que Jacques Wagner (PT) está defendendo a recondução de Augusto Aras na Procuradoria Geral da República. Como as minhas expectativas para o governo Sarney 2, quer dizer, Lula 3 eram as piores possíveis, não posso dizer que esteja surpreso com mais essa cagada e mais essa […]

Direto da selva

O sujeito pega um táxi do Centro para a Zona Norte. No trajeto, que dura menos de meia hora, o motorista profissional:

a) Está o tempo todo prestando atenção em dois celulares: num, interage pelo “zap”. Chega inclusive a sacar do porta-luvas um cardápio de pizzaria, colocá-lo sobre o volante, tirar uma foto e enviar para alguém.

b) Noutro celular, acompanha os gols da rodada no Jornal da Globo. Aumenta o volume até o máximo quando o apresentador anuncia que vão começar a exibir os tentos.

c) Não usa cinto de segurança.

d) Chega a mais de 90km/h na Avenida Presidente Vargas.

O caso é extremo, admito. Mas não é a primeira, nem a segunda, nem a décima vez que tenho experiência com tais problemas ao usar o transporte seguro, legal, autorizado e fiscalizado pelo poder municipal. Aquele ao qual supostamente as pessoas devem dar preferência na hora de pagar a um motorista para lhes levar a algum lugar. É assim há muitos anos, no Rio de Janeiro. Aparentemente ninguém se importava, até aparecerem empresas multinacionais fazendo dumping, mas oferecendo um serviço às vezes melhor e às vezes mais barato.

No fundo, me parece, a situação permanece a mesma: ninguém tá nem aí.

Um livro

Trecho de Abusado, de Caco Barcellos:

“Por causa da quadrilha de Calunga e Paulista, nenhuma categoria sofreu tanto quanto os empresários de ônibus. No ano de 1991 eles foram atacados dez vezes pelo grupo. A escolha da vítima era feita por Calunga, que guardava mágoas profundas do transporte coletivo da cidade. Ele cresceu vendo o pai sofrer com a condução que o levava de casa, no subúrbio, para o trabalho, no centro. O pai ascensorista era obrigado a acordar às cinco horas da manhã porque o ônibus da linha demorava quase duas horas para deixá-lo perto da firma, na Cinelândia.

Muitas vezes Calunga viu o pai viajar pendurado pelo lado de fora, pingente do ônibus superlotado. Ele nunca esqueceu do acidente que sofreu quando estava com a mãe, amontoados no corredor. O ônibus bateu na traseira de um caminhão e o jogou contra a janela de vidro. Calunga sofreu vários cortes no rosto e no peito, e a mãe, imprensada pela massa de passageiros contra um banco de ferro, fraturou uma das pernas. Naquele dia, Calunga jurou matar o dono da empresa de ônibus, que se negou a indenizá-los.

Ônibus velhos, malconservados, sujos, em número sempre insuficiente para atender ao volume de passageiros motivaram algumas revoltas violentas no bairros vizinhos. Calunga e o pai estavam entre as pessoas que apedrejaram e puseram fogo nos carros. Dez anos depois, quando virou sequestrador, Calunga resolveu se vingar. Tentou levar para o cativeiro os principais empresários de ônibus da região onde morava.”